Um amigo especial
Conheça a história daqueles que abriram os braços para os animais que viram o mundo lhes dar as costas
A adoção de animais deficientes ainda carrega um preconceito
enraizado muito grande, mas existem pessoas dispostas a driblar os preconceitos e garantir uma
vida cheia de amor para esses animais.
Rafaela Suzart, 31, mudou a vida inteira para receber a
Nina, uma cadelinha paraplégica que ela resgatou de uma situação precária e de
maus tratos. “Ela ficava amarrada embaixo de uma escada, estava com a pata
quebrada e tivemos que amputar”, relembra.
“A ideia inicial era pegar, cuidar e doar. Levei ela pra
casa enquanto minha mãe viajava, aí eu me apaixonei por ela perdidamente. O que me motivou adotar ela foi o amor. Pra
adotar ela eu tive que mudar minha vida, tive que sair da casa da minha mãe e
alugar um lugar pra gente”, explica Rafaela.
Nina / Arquivo Pessoal |
Cara a cara com o preconceito
A história de Débora Marcelli, 33, e seu cãozinho Fox, de 7
anos, é tão apaixonante quanto. Após a morte de seu cachorro, Débora e o marido
estavam à procura de um novo pet, quando Fox foi abandonado no pet shop onde
ela trabalhava na época, devido às convulsões.
“A moça que abandonou ele, alegou que achou ele na rua e como ele convulsionou não queria mais ficar com ele. Eu e meu marido vimos que ele não seria adotado pelo preconceito e ficamos com ele”.
Fox / Arquivo Pessoal |
Em meio ao caos dos acontecimentos do dia a dia, muitos destes animais cruzam o caminho de quem, mais tarde, se torna seu tutor e protetor.
Após a morte da sogra, Nádia Scapin teve que doar os quinze
cães que foram deixados pra trás, e, em meio a isso, se viu apaixonada pelo
mundo de resgates e doação de animais.
Foi então que decidiu ser voluntária em um abrigo, onde
encontrou Milly, 4, uma gata com problemas visuais.
Até mesmo dentro do meio dos protetores e das feiras de
adoção, a voluntária de 56 anos se vê cara a cara com a realidade e com o
preconceito diariamente.
“Eu trabalho numa feira de adoção e lá não podem participar
animais com nenhum tipo de deficiência”, revela a voluntária. “É um cenário
extremamente triste”, completa.
“O abrigo ficava lá em Suzano, só que mais parecia uma casa
dos horrores do que um abrigo de animais, porque a pessoa era uma acumuladora.
Quando eu cheguei lá, tinha muita sujeira e muitos animais. Não eram animais
cuidados, eram animais depositados lá.”, relata a voluntária.
“Um desses animais
era a Milly. Ela estava lá, dentro de uma caixinha de areia junto com dois
filhotinhos que ela tinha tido. Como a dona do lugar era uma acumuladora, foi
muito difícil de conseguir a confiança dela pra ela me deixar trazer a Milly
pra casa, mas eu consegui.”
Milly / Arquivo Pessoal |
A importância do apoio
Os impactos dos traumas se manifestam em seus
comportamentos, os desafios que enfrentam estes animais destaca a importância e
a necessidade de suporte que eles carregam, a busca por um lugar seguro e carinho.
“Seis meses atrás ele começou a ter efeito contrário ao
remédio e tinha 30 convulsões por dia. Nós víamos que ele não queria ficar mais
sozinho, ele sempre estava atrás de alguém, coisa que ele não fazia. Dava pra
perceber que ele tinha medo ou algo parecido”, explica Débora ao mencionar os
impactos emocionais que a epilepsia causou em Fox.
Nádia concorda que o passado dos animais e suas condições
influenciam o psicológico deles. “Com certeza isso mexe com ela. Ela tem um
instinto de defesa muito aguçado. Eu tenho outras gatas aqui, inclusive, ela
não se dá bem com uma delas, e o instinto dela pra se defender é muito
aguçado.”, explica a voluntária.
Débora e Fox / Arquivo Pessoal |
Amor incondicional
Os desafios e responsabilidades que envolvem a adoção de um
animal especial são grandes, mas o retorno e a possibilidade de dar aos animais
uma chance de recomeçar após traumas de um passado de abandono é algo lindo.
“As pessoas ignoram o que é cuidar de um animalzinho assim.
Enfrentem o desafio porque o retorno é extremamente gratificante. Ela me
conhece, quando eu chego em casa ela está esperando no portão e corre atrás de
mim. Ela sabe que eu a tirei daquele mundo e ela sabe que enquanto eu viver,
ela terá a minha proteção. Puxa vida, ganhei mais eu do que ela.”, finaliza
Nádia.
“Adotar um animal especial é uma experiência incrível, é um
amor diferente. Eu posso dizer com toda certeza que foi a coisa mais intensa
que eu vivi”, completa Rafaela.
Milly, Fox e Nina são alguns exemplos de animais que receberam uma segunda chance de felicidade e foram abraçados independente de suas bagagens e deficiências. O amor vê além das dificuldades e, às vezes, a parte que falta neles, é você.
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