Uma história de luta e aprendizado: conheça a inspiradora batalha de Magda Bueno e seus animais especiais
A protetora de animais coleciona aprendizados cuidando da vida de seus bichinhos especiais
Foto: Pluf e Magda Bueno na festa de aniversário de 10 anos do cachorrinho – Arquivo pessoal / @pluf3060 (Instagram)
Moradora da cidade de Divinópolis, MG, Magda Bueno, 35, é bióloga especializada em análises clínicas, voluntária de uma ONG de animais e tutora de 8 animais. Um deles se chama Pluf, tem 10 anos de idade e é um cãozinho especial, cadeirante. Foi adotado ainda filhote, com 3 meses de idade.
Magda conta que o animal apareceu na rua de sua casa,
triste e infestado de carrapatos. Ele aparentava ter sido abandonado. Logo, ela
começou a dar medicamentos para tratar os parasitas. Mesmo tendo um espaço
precário em casa, a bióloga não tinha coragem de devolvê-lo para rua. Foi então
que decidiu adotar Pluf.
Porém, nem sempre Pluf foi um animal especial, pois antes
de outubro de 2019, ele era um cachorrinho sem deficiências, até sofrer um
covarde atropelamento em frente ao portão de sua casa.
A maldade humana
Pluf foi atropelado por um carro que fugiu do local, sem
prestar socorros. Uma testemunha seguiu o carro e descobriu a placa, e foi a
partir disso, que Magda começou sua própria investigação para encontrar
respostas para quem havia cometido tamanha maldade contra seu animal.
‘’Liguei para a polícia na hora, mas infelizmente eles se
recusaram ir, disseram que não poderiam comparecer. 2 dias depois, fui à
polícia civil e fiz um boletim de ocorrência’’, conta Magda Bueno.
Após dias de intensas pesquisas e conversas com diversas
pessoas, a tutora de Pluf conseguiu as filmagens do ocorrido, informações do
motorista que cometeu o atropelamento e uma testemunha. Conseguiu também um
advogado, que entrou com o processo na justiça, pedindo 4 mil reais de
indenização e 5 mil por danos morais.
O tratamento
Após ser atropelado, Pluf foi internado, sentindo muitas
dores, que não passavam nem com os vários medicamentos que estava tomando. O
cachorrinho fez uma radiografia que logo mostrou, ele estava paraplégico por
conta de uma fratura na coluna.
O veterinário já estava desconfiado, pois Pluf não
conseguia andar, só rastejava. Foi então que o profissional sugeriu e insistiu muito
para que a bióloga realizasse a eutanásia no animal. Magda logo recusou a
ideia.
A tutora de Pluf conseguiu encontrar um profissional
especializado em animais paraplégicos, que logo avaliou o animal e disse que
com o tratamento certo, ele poderia viver normalmente, sem a necessidade de eutanásia.
O animalzinho teve que realizar uma grande cirurgia na coluna, para ajudá-lo
com as dores que sentia. O procedimento foi um sucesso.
Pluf em uma consulta veterinária - Foto: Arquivo pessoal / @pluf3060 (Instagram)
Cansaço
Magda conta que os dias do acidente, investigação e
cirurgia, foram difíceis e cansativos: ‘’foram dias de muita tensão. Eu
correndo com ele (Pluf) de Nova Serrana para Divinópolis; trabalhando a noite e
saindo do serviço cedo sem dormir; ‘pegando BR’; pegando carro emprestado com
meu namorado para trazer o Pluf; indo sozinha levar ele na clínica. Foi uma
semana sem dormir e comer, pois eu não tinha tempo’’.
Após o dia da operação, Magda Bueno foi buscá-lo. Porém,
logo o veterinário orientou-a a deixar o animal por mais dois dias na clínica,
visto que o estado físico e mental da tutora estava visivelmente abalado por
conta dos últimos dias. ‘’O veterinário disse que eu estava precisando de mais
ajuda do que o cachorro, precisava descansar. Só de olhar para mim você via que
a situação estava séria. Em uma semana perdi 4kg’’, contou a tutora de Pluf.
Magda Bueno e Pluf - Foto: Arquivo pessoal / @pluf3060 (Instagram)
Recuperação
Após alguns dias na clínica, pós operação, Pluf chegou em
casa. A tutora conta que ele logo já queria subir no sofá (se arrastando), que
para o animal parecia tudo normal. A recuperação foi um sucesso também.
O namorado de Magda aprendeu a fazer uma cadeirinha de
rodas com cano PVC, e então fez para Pluf. Porém, mesmo com insistência da tutora,
o animal tinha medo do aparelho. A bióloga ganhou então uma cadeirinha
ajustável de sua amiga, e então, começou a insistir mais para que seu cãozinho
se adaptasse.
‘’Todos os dias eu o colocava na cadeirinha. Ele ficava
muito assustado e inseguro, não andava. Até que um dia, 1 mês após o
atropelamento dele, ele aceitou o aparelho pela primeira vez. Hoje quando pega
a cadeirinha ele já se anima e sabe que é para passear’’, disse a bióloga.
Hoje, Pluf está adaptado. Ele corre, sobe, desce, entra no
meio do mato, quando vê outros cães, até se arrisca a enfrentá-los, conta sua
tutora: ‘’para ele a vida está normal, não existem limites, ele pode tudo. As
vezes ele enrosca em algum lugar e capota, porque ele não lembra que está em
uma cadeirinha’’.
Pluf - Foto: Arquivo pessoal / @pluf3060 (Instagram)
A bióloga, que trabalhava na área em um hospital, conta que
teve que sair da área para poder dar a atenção que Pluf necessita. Hoje ela
trabalha em uma loja de seu namorado. ‘’Um animal deficiente é como um bebê
recém-nascido. Ele (Pluf) precisa de uma atenção exclusiva, toma medicamentos
de uso contínuo, necessita de trocar fralda de 3 em 3 horas’’, diz Magda.
‘’Para mim, meus animais são como filhos. Nenhuma mãe
desiste de seus filhos. O que me da forças para não desistir, é o amor que eu
sinto por ele. Por muito tempo, ele foi minha única companhia, por altos e
baixos ele sempre estava ali’’, conta Magda Bueno.
A tutora agradece por ter saúde para poder cuidar de seus
cães, diz que mesmo com as dificuldades financeiras, ela nunca desistiria de
lutar por seus animais. Ela comenta que já trabalhou em diversas áreas, e
agora, para sustentar Pluf, não é diferente.
Cuidadora de animais, catadora de materiais recicláveis,
fazedora de bonecas artesanais: essas são algumas das atividades que a bióloga
realizou nos últimos 2 anos para poder ter renda extra e cuidar de seu cãozinho.
Magda conta que atualmente sua dívida com os gastos com
Pluf são de mais de 13 mil reais, que correspondem para os custos com
medicações, internamentos, consultas, exames e a operação.
Um dos problemas que mais afeta o cachorrinho, atualmente, são
suas infecções urinárias recorrentes, que não melhoram devido a bactérias
resistentes a antibióticos.
Cada tratamento de infecção custa em média R$1,500, explica
a bióloga, que já tratou inúmeras das infecções que costumam voltar a cada 21
dias. Mas apesar disso tudo, ela conta que se sente recompensada por ter seu
cãozinho:
‘’Minha maior recompensa é ver ele e vivo e
feliz. Me sinto recompensada todos os dias’’.
Magda e Pluf - Foto: Arquivo pessoal / @pluf3060 (Instagram)
O suspeito de atropelar Pluf foi notificado, após o
advogado de Magda entrar com o processo. Semanas depois, o acusado foi ao fórum
e se informou sobre o caso. A tutora do animal conta que o homem foi até sua
casa tirar satisfações sobre o processo, e tentou intimidá-la. Mas, ela não
teve medo, e o processo continuou.
Em fevereiro de 2020 ocorreu o julgamento sobre o caso.
Porém, o acusado não levou advogado, nem sua esposa, que também estava no
processo, por se tratar da dona do veículo.
O empresário, acusado de atropelar o animal, negou as
acusações. Porém, tudo mudou quando ele descobriu que havia vídeos provando as
acusações.
Foi então, que ele admitiu ter atropelado o animal, mas acreditou
que nada teria acontecido, já que, segundo ele, Pluf teria saído andando
normalmente, afirmação que não condiz, já que o cachorro perdeu os sentidos das
pernas traseiras.
Com encerramento do julgamento, em outubro de 2020 saiu a
sentença: o acusado foi culpado, e teria que pagar apenas R$ 1.500 de
indenização. Até o momento de produção dessa reportagem, o criminoso não foi
notificado sobre a indenização que deverá pagar.
OLAVO
Além de Pluf, Magda tem outro animalzinho especial. Se
trata de Olavo, um cãozinho cheio de energia e felicidade, que a tutora adotou
em agosto do ano passado.
A tutora conta que o adotou após o ver na fila da lotérica.
O animal parecia pedir por atenção, esperando por alguém que pudesse falar com
ele. Foi então que ela o resgatou.
Olavo com 4 meses de idade – Foto: Arquivo pessoal
De início, sua ideia era resgatá-lo, cuidar e doa-lo.
Porém, com passar dos meses, tudo mudou. Olavo testou positivo para Cinomose. Ele é assintomático, porém, necessita de
tratamento. Toma vitaminas para sempre ter um bom sistema imunológico.
Isso acabou ajudando no tratamento de outra doença que ele
também testou positivo, a doença do carrapato. E logo depois, a bióloga
descobriu que o animal havia sido infectado pelo mosquito-palha, fazendo Olavo ter
leishmaniose.
‘’Por mais que eu achasse que tudo estava difícil, pelo que
ocorreu com Pluf, pela morte de uma das minhas cachorras, eu aprendi que não
estava. Que tudo pode piorar. Olavo me mostrou que nós nunca podemos reclamar,
que sempre temos que pensar que um dia as coisas vão melhorar’’, desabafa Magda
Bueno.
Olavo atualmente, com 11 meses – Foto: Arquivo pessoal
Para a protetora de animais, não há escolha para
desistir. Ela conta que jamais desistiria de uma vida. No momento ela
aguarda ansiosamente pela recuperação de Olavo com a Cinomose, e regularmente
realiza o teste, torcendo para que seja negativo.
Magda conta que em relação a leishmaniose, Olavo necessita
de um remédio que custa em torno de R$1.500 a R$1.800, e que está indisponível
no mercado atualmente. ‘’A doença (leishmaniose) tem tratamento, porém é
caríssimo. Por enquanto, farei o que está dentro das minhas condições’’, relata
a bióloga.
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